terça-feira, 11 de abril de 2017

Biografia

Floriano

Antônio Bandeira

Floriano é mais grito, maior drama, mais invenção poética. Apresenta-nos vaqueiros, vaquejadas, orquestrações sertanejas, algumas bucólicas. O leitmotiv é interessante e fecundo, e não há dúvida que Floriano é dono de um talento e de uma técnica invulgares. Antes conhecia dêle desenhos e aquarelas, e os primeiros são tão convincentes que nos lembram verdadeiras águas-fortes, seja no tratamento linear dos volumes, seja no jôgo do claro-escuro. As aquarelas são saborosas, manejando êle com verdadeiro conhecimento da técnica. Azuis e rosas, verdes-azulados, arroxeados, violetas e amarelos, tudo se combina numa matização agradável à vista e plena de sensibilidade. Com um perfeito domínio na unção das côres, consegue uma transparência cheia de pureza, que chega a nos comover sensívelmente.
Porém, é na pintura a óleo que a expansão criadora do artista encontra maior liberdade. Sua composição é equilibrada e segura, a matéria é vigorosa (às vezes um tanto cezaniana), as côres são fortes, conseguindo com belas nuanças uma verdadeira visão poética, com vibrante fundo musical, numa verdadeira fuga para o infinito. Nas composições em vaqueiros se misturam às árvores, cavalos e horizontes, consegue uma forte unidade de ritmo. Geralmente são  terras avermelhadas, que se misturam a brancos trabalhados, passando pela gama dos azuis, amarelos e violetas, até o horizonte em formas rítmicas como num crescendo. O quadro se completa de uma  tal maneira que às vêzes o motivo desaparece, ou pode passar despercebido, dando lugar a uma tonalidade de tons. Fácil é saber que Floriano lida com as tintas há vários anos. Ao contrário, não se conceberia a avalancha de côres que nos empolga a vista.
Fortaleza, 1951 - in Clã – Revista de Cultura – N.º 25
Dor
Óleo sobre cartão
75X58 - 1943

Dados biográficos

    FLORIANO de Araújo Teixeira, nasceu no município de Cajapió, baixada maranhense.Região coberta de grandes pântanos, florestas e campos pastoris. 
Rica em madeira de lei, babaçu e folclore.
Mais tarde transfere-se para São Luís, onde passa a frequentar o Grupo Escolar Sotero dos Reis, depois o Liceu Maranhense.
Em 1935 recebe as primeiras aulas de desenho do professor Rubens Damasceno. Daquele ano datam as suas primeiras aquarelas.
Executa desenhos para histórias em quadrinhos e caricaturas.
Em 1940, junta-se a um grupo de pintores, liderados por J. Figueiredo, que o anima a tentar a pintura de cavalete.
Estuda e documenta tipos populares, e cenas das docas de São Luís.
Através de livros e revistas de arte, trava conhecimento com El Greco, que o impressiona vivamente, especialmente pela deformação alongada das figuras.
Em 1941, expõe dois quadros no “I Salão de Dezembro”: “Bêbados” e “Mendigos”, e com êles tira o 1º Prêmio do Certame.
Aumenta o seu entusiasmo e amor pela pintura.
Torna-se amigo do escritor Erasmo Dias, que lhe franqueia sua biblioteca onde descobre os impressionistas franceses e os expressionistas alemães.
Executa uma série de vinte desenhos inspirados nos jogadores de “dama” da praia do Destêrro e nos fumadores de “diamba” do cais da praia do Caju.
Volta a Cajapió, para uma pequena temporada de férias. Desenha e participa de inúmeras vaquejadas, tarefa do campo que sempre lhe atraiu.
Em 1948, participa da fundação do Núcleo Eliseu Visconti, atelier coletivo, freqüentado por J. Figueiredo, Cadmo Silva, Lucy Teixeira, Bandeira Tribuzzi, Lago Burnet, Ferreira Gullar e outros.
Descobre Portinari, que o impressiona violentamente. Toma contato com as técnicas da monotipia e da xilogravura.
Em 1949, o coronel Sebastião Archer da Silva, então Governador do Maranhão, encarrega-o de fazer um levantamento e catalogar as gravuras, desenhos e pinturas da Coleção Artur Azevedo. Essa tarefa apaixonante dá-lhe a oportunidade de manusear obras de Daumier, Gavarni, Millet, etc.
Em 1950 muda-se para o Ceará, onde toma parte ativa no grupo local de artistas modernos.
Faz xilogravuras para o jornal O Democrata.
Com Antônio Bandeira, J. Siqueira, Zenon Barreto, Goebel Weyne, Jairo Martins Bastos e outros, funda o grupo dos “Independentes”.
Em 1953 pinta para a Companhia de Seguros Sul América um mural cujo tema é a vida rural cearense, e, em seguida, executa um painel tríptico para o Cartório Martins, com tema histórico.
Em 1962 a Universidade do Ceará organiza o seu Museu de Arte, e Floriano é convidado pelo reitor Antônio Martins Filho para dirigi-lo na sua primeira etapa. Um ano após, retorna com intensidade à pintura.
Seus filhos estão presentes como tema principal de seus trabalhos dessa fase. Logo a seguir, é apresentado ao público de Salvador, expondo pinturas e desenhos no MAMB. Torna-se amigo de Jorge Amado, e, a convite dêste, muda-se para Salvador onde reside, desde 1965, no Rio Vermelho, com sua mulher Alice e seus sete filhos.


Clã – Revista Cultural – N.º 25

Dezembro/1970


Fortaleza - CE

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