Floriano
Antônio
Bandeira
Floriano é mais grito, maior
drama, mais invenção poética. Apresenta-nos vaqueiros, vaquejadas,
orquestrações sertanejas, algumas bucólicas. O leitmotiv é interessante e fecundo, e não há dúvida que Floriano é
dono de um talento e de uma técnica invulgares. Antes conhecia dêle desenhos e
aquarelas, e os primeiros são tão convincentes que nos lembram verdadeiras
águas-fortes, seja no tratamento linear dos volumes, seja no jôgo do
claro-escuro. As aquarelas são saborosas, manejando êle com verdadeiro
conhecimento da técnica. Azuis e rosas, verdes-azulados, arroxeados, violetas e
amarelos, tudo se combina numa matização agradável à vista e plena de
sensibilidade. Com um perfeito domínio na unção das côres, consegue uma
transparência cheia de pureza, que chega a nos comover sensívelmente.
Porém, é na pintura a óleo
que a expansão criadora do artista encontra maior liberdade. Sua composição é
equilibrada e segura, a matéria é vigorosa (às vezes um tanto cezaniana), as
côres são fortes, conseguindo com belas nuanças uma verdadeira visão poética,
com vibrante fundo musical, numa verdadeira fuga para o infinito. Nas
composições em vaqueiros se misturam às árvores, cavalos e horizontes, consegue
uma forte unidade de ritmo. Geralmente são
terras avermelhadas, que se misturam a brancos trabalhados, passando
pela gama dos azuis, amarelos e violetas, até o horizonte em formas rítmicas
como num crescendo. O quadro se completa de uma
tal maneira que às vêzes o motivo desaparece, ou pode passar despercebido,
dando lugar a uma tonalidade de tons. Fácil é saber que Floriano lida com as
tintas há vários anos. Ao contrário, não se conceberia a avalancha de côres que
nos empolga a vista.
Fortaleza, 1951 - in Clã – Revista de Cultura –
N.º 25
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Dor Óleo sobre cartão 75X58 - 1943 |
Dados biográficos
FLORIANO de Araújo Teixeira, nasceu no município de
Cajapió, baixada maranhense.Região coberta de grandes pântanos, florestas e
campos pastoris.
Rica em madeira de lei, babaçu e folclore.
Rica em madeira de lei, babaçu e folclore.
Mais tarde transfere-se para
São Luís, onde passa a frequentar o Grupo Escolar Sotero dos Reis, depois o
Liceu Maranhense.
Em 1935 recebe as primeiras
aulas de desenho do professor Rubens Damasceno. Daquele ano datam as suas
primeiras aquarelas.
Executa desenhos para
histórias em quadrinhos e caricaturas.
Em 1940, junta-se a um grupo
de pintores, liderados por J. Figueiredo, que o anima a tentar a pintura de
cavalete.
Estuda e documenta tipos
populares, e cenas das docas de São Luís.
Através de livros e revistas
de arte, trava conhecimento com El Greco, que o impressiona vivamente,
especialmente pela deformação alongada das figuras.
Em 1941, expõe dois quadros
no “I Salão de Dezembro”: “Bêbados” e “Mendigos”, e com êles tira o 1º Prêmio
do Certame.
Aumenta o seu entusiasmo e
amor pela pintura.
Torna-se amigo do escritor
Erasmo Dias, que lhe franqueia sua biblioteca onde descobre os impressionistas
franceses e os expressionistas alemães.
Executa uma série de vinte
desenhos inspirados nos jogadores de “dama” da praia do Destêrro e nos
fumadores de “diamba” do cais da praia do Caju.
Volta a Cajapió, para uma
pequena temporada de férias. Desenha e participa de inúmeras vaquejadas, tarefa
do campo que sempre lhe atraiu.
Em 1948, participa da
fundação do Núcleo Eliseu Visconti, atelier
coletivo, freqüentado por J. Figueiredo, Cadmo Silva, Lucy Teixeira, Bandeira
Tribuzzi, Lago Burnet, Ferreira Gullar e outros.
Descobre Portinari, que o
impressiona violentamente. Toma contato com as técnicas da monotipia e da
xilogravura.
Em 1949, o coronel Sebastião
Archer da Silva, então Governador do Maranhão, encarrega-o de fazer um
levantamento e catalogar as gravuras, desenhos e pinturas da Coleção Artur
Azevedo. Essa tarefa apaixonante dá-lhe a oportunidade de manusear obras de
Daumier, Gavarni, Millet, etc.
Em 1950 muda-se para o
Ceará, onde toma parte ativa no grupo local de artistas modernos.
Faz xilogravuras para o
jornal O Democrata.
Com Antônio Bandeira, J.
Siqueira, Zenon Barreto, Goebel Weyne, Jairo Martins Bastos e outros, funda o
grupo dos “Independentes”.
Em 1953 pinta para a
Companhia de Seguros Sul América um mural cujo tema é a vida rural cearense, e,
em seguida, executa um painel tríptico para o Cartório Martins, com tema
histórico.
Em 1962 a Universidade do
Ceará organiza o seu Museu de Arte, e Floriano é convidado pelo reitor Antônio
Martins Filho para dirigi-lo na sua primeira etapa. Um ano após, retorna com
intensidade à pintura.
Seus filhos estão presentes
como tema principal de seus trabalhos dessa fase. Logo a seguir, é apresentado
ao público de Salvador, expondo pinturas e desenhos no MAMB. Torna-se amigo de
Jorge Amado, e, a convite dêste, muda-se para Salvador onde reside, desde 1965,
no Rio Vermelho, com sua mulher Alice e seus sete filhos.
Clã – Revista Cultural – N.º 25
Dezembro/1970
Fortaleza - CE
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